Diferença entre Disjuntor, Fusível e DR: Onde Usar Cada Um
Entenda a diferença entre disjuntor, fusível e DR (dispositivo diferencial residual). Saiba como cada um funciona, onde usar e o que exigem as normas técnicas como a NBR 5410
Eng. Esp. Valmir Paulo de Morais Neto
12/18/20254 min read


Introdução
Em qualquer instalação elétrica — seja residencial, comercial ou industrial — a escolha correta dos dispositivos de proteção é fundamental para garantir segurança, confiabilidade e conformidade com as normas técnicas.
Entre os dispositivos mais utilizados estão o disjuntor, o fusível e o dispositivo diferencial residual (DR).
Apesar de muitas vezes serem tratados como equivalentes, esses dispositivos não têm a mesma função e não se substituem. Cada um atua sobre um tipo específico de falha elétrica e protege elementos diferentes da instalação.
Compreender essas diferenças é essencial para evitar choques elétricos, incêndios, queima de equipamentos e problemas legais por não atendimento à ABNT NBR 5410 e à NR-10.
O papel dos dispositivos de proteção elétrica
Uma instalação elétrica segura deve ser capaz de:
Proteger os condutores contra sobrecorrentes;
Proteger os equipamentos contra curtos-circuitos;
Proteger as pessoas contra choques elétricos;
Minimizar riscos de incêndio de origem elétrica.
Nenhum dispositivo isolado consegue cumprir todas essas funções. Por isso, disjuntor, fusível e DR atuam de forma complementar.
Disjuntor: proteção do circuito e dos equipamentos
O disjuntor é um dispositivo de proteção rearmável, projetado para interromper automaticamente o circuito quando a corrente elétrica ultrapassa valores seguros.
Ele atua basicamente de duas formas:
Proteção térmica, que reage a sobrecargas prolongadas, como quando vários equipamentos são ligados simultaneamente em um circuito subdimensionado;
Proteção magnética, que atua instantaneamente em casos de curto-circuito, quando a corrente sobe de forma abrupta.
Os disjuntores são projetados para proteger principalmente os condutores e os equipamentos, evitando o aquecimento excessivo dos cabos e danos aos aparelhos conectados.
É importante destacar que o disjuntor não protege pessoas contra choque elétrico. Se alguém tocar em uma parte energizada, o disjuntor só atuará se a corrente atingir um valor elevado, o que geralmente não ocorre em choques elétricos envolvendo o corpo humano.
Por isso, confiar apenas no disjuntor é um erro grave de segurança.
Fusível: proteção simples e altamente confiável
O fusível é um dispositivo de proteção mais antigo, porém ainda amplamente utilizado, especialmente em ambientes industriais. Ele funciona por meio da fusão de um elemento metálico, que se rompe quando a corrente ultrapassa o limite admissível.
Diferente do disjuntor, o fusível:
Atua apenas uma vez;
Precisa ser substituído após a atuação;
Possui tempo de resposta extremamente rápido, especialmente em curtos-circuitos severos.
Essa característica faz com que o fusível seja muito utilizado em situações onde a seletividade e a velocidade de atuação são críticas, como na proteção de transformadores, motores de grande porte e equipamentos eletrônicos sensíveis.
Embora seja simples e confiável, o fusível apresenta limitações operacionais, pois exige reposição manual e não permite o rearme imediato da instalação.
Assim como o disjuntor, o fusível não protege contra choque elétrico.
DR (Dispositivo Diferencial Residual): proteção da vida
O DR é o único dispositivo entre os três cujo objetivo principal é proteger as pessoas.
Seu funcionamento é baseado na comparação entre a corrente que entra e a corrente que sai do circuito. Em condições normais, esses valores são iguais. Se ocorrer uma fuga de corrente, por exemplo, através do corpo de uma pessoa para o terra, surge uma diferença entre essas correntes.
Ao detectar essa diferença acima de um valor pré-definido, o DR desarma quase instantaneamente, interrompendo o fornecimento de energia antes que o choque cause danos graves ou fatais.
A norma brasileira exige, em instalações de baixa tensão, o uso de DR com sensibilidade de 30 mA em locais como:
Banheiros;
Cozinhas;
Áreas externas;
Lavanderias;
Circuitos de tomadas de uso geral em residências.
Além da proteção contra choque, o DR também contribui para a prevenção de incêndios, ao detectar fugas de corrente que poderiam aquecer materiais inflamáveis.
Por que o DR não substitui o disjuntor
Um erro comum é acreditar que o DR pode substituir o disjuntor. Isso é tecnicamente incorreto.
O DR:
Não protege contra sobrecarga;
Não protege contra curto-circuito;
Pode ser destruído se submetido a correntes elevadas.
O disjuntor:
Protege os condutores e equipamentos;
Não detecta fuga de corrente em níveis perigosos para o ser humano.
Por isso, em uma instalação correta, o DR sempre trabalha em conjunto com disjuntores.
Aplicação prática em quadros elétricos
Em um quadro de distribuição bem projetado, a lógica de proteção segue esta sequência:
A alimentação entra primeiro em um disjuntor geral, que protege o ramal principal. Em seguida, passa por um DR, responsável pela proteção das pessoas. Depois, cada circuito é protegido individualmente por seu próprio disjuntor.
Essa configuração garante:
Proteção elétrica adequada;
Facilidade de manutenção;
Atendimento às normas técnicas;
Maior segurança operacional.
Erros comuns em instalações elétricas
Entre os erros mais frequentes estão:
Utilizar apenas disjuntores e ignorar o DR;
Instalar DR apenas no circuito do chuveiro;
Substituir fusíveis por disjuntores sem análise de seletividade;
Dimensionar disjuntores apenas pela potência da carga, ignorando a seção dos cabos;
Nunca testar o funcionamento do DR pelo botão de teste.
Essas práticas comprometem seriamente a segurança da instalação.
Quando usar cada dispositivo
Use disjuntores sempre que precisar proteger cabos e equipamentos contra sobrecorrentes e curtos-circuitos.
Use fusíveis quando a aplicação exigir resposta extremamente rápida e alta confiabilidade, especialmente em ambientes industriais.
Use DR sempre que houver risco de choque elétrico ou exigência normativa — especialmente em áreas molhadas e tomadas de uso geral.
Conclusão
Disjuntor, fusível e DR não são concorrentes, mas elementos complementares de um sistema de proteção elétrica eficiente.
Uma instalação segura e profissional deve proteger:
Os condutores;
Os equipamentos;
E, acima de tudo, as pessoas.
Entender a função correta de cada dispositivo é uma obrigação técnica de engenheiros, técnicos e eletricistas comprometidos com a segurança e a qualidade das instalações.
O autor
Valmir Paulo
Engenheiro eletricista, matemático, eletromecânico industrial e músico. Especialista em: projetos de estruturas metálicas, gerenciamento de projetos e inovação, projetos elétricos, Solidworks e desenvolvimento de equipamentos industriais. Apaixonado pelo ensino e por transmitir conhecimento e maneira efetiva e transformadora.


